sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Violência no trânsito

TRÂNSITO SERGIPANO MATA MAIS QUE ARMA DE FOGO

Das mortes violentas registradas no Estado de Sergipe no ano de 2008, 29,85% aconteceram decorrentes de acidentes no trânsito. O segundo motivador de mortes, as armas de fogo, registraram 14,10%, menos da metade do número atribuído ao trânsito.
Segundo o Instituto Médico Legal (IML), foram 455 pessoas em todo o Estado. Em Aracaju o registro é de 122 óbitos, pouco mais que um quarto do total (26,81%), motivo suficiente para refletirmos sobre o que representa a violência no trânsito em nossas cidades.
Os expressivos índices do trânsito evidentemente não atingem Sergipe de forma diferenciada se comparado aos demais grandes centros urbanos. São 35000 vitimas espalhadas pelo Brasil ano após ano, o que demonstra que o coletivo do trânsito brasileiro carece de investimentos em educação e fiscalização.
Como instrutor de trânsito que convive diariamente com candidatos a 1ª habilitação, percebo a falta de perspectiva das pessoas que demonstram não acreditar em mudanças efetivas capazes de poupar as vidas que são ceifadas nas ruas. Um reclamo comum é que mais importante do que ter Carteira Nacional de Habilitação (CNH), é ter “amigos”. Quero crer que tal sentimento não espelha a realidade dos órgãos criados para fiscalizar o cumprimento do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Mas, se esta questão realmente existe, resta-nos a lamentação e a certeza de que tal fato custa muito caro para o poder publico e para toda a sociedade.
Sabemos que o número de pessoas presentes nas vias conduzindo veículos automotores sem habilitação é muito grande. Segundo pesquisa Ibope de 2007, representa 30% dos automóveis e 61% das motocicletas. É perceptível a falta de conhecimento dos condutores que se comportam agressivamente incomodando outros motoristas, ameaçando pedestres até nas travessias sobre faixas próprias, e que se acham verdadeiros “ases” da direção.
Não perco a oportunidade de dizer aos candidatos que ser condutor pressupõe aprendizado prático e teórico desenvolvido por profissionais treinados e credenciados pelos órgãos de trânsito, e inclusive oriento-os a não iniciar o contato com veículos tendo como referencia outro condutor que não seja instrutor e que em muitos casos dirige agressivamente. Para perceber como os veículos são entregues a pessoas não habilitadas basta passar pelo estacionamento do Mercado Municipal em Aracaju e observar os inúmeros carros particulares fazendo manobras sob a orientação de “instrutores” não autorizados.
Reduzir o número de mortes no trânsito está intimamente ligado à inclusão do tema “trânsito” nas escolas, possibilidade já regulamentada pelo CONTRAN, à necessidade de investimentos consistentes que permitam treinar e equipar os nossos agentes de trânsito e à definitiva extinção do “jeitinho brasileiro” que faz com que muitas pessoas julguem desnecessário o cumprimento das leis vigentes.
As leis devem criar regras para todos, até porque as estatísticas do IML atingem pobres e ricos, negros e brancos, filhos dos mais simples cidadãos aos filhos das maiores autoridades, sem distinções, registrando a morte dos que julgam desnecessário respeitar as leis e as pessoas, e em alguns casos, vitimando cidadãos cumpridores de seus deveres.

Sydnei Ulisses de Melo é instrutor de trânsito – www.sydnei-ulisses.blogspot.com – sydneiulisses@gmail.com

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