sábado, 23 de agosto de 2014

AS MORTES QUE NÃO INCOMODAM

Dos 108 atropelamentos ocorridos em Aracaju até hoje (23 de agosto), resultaram 20 mortes. A informação divulgada em um telejornal mostra a indiferença das autoridades e da sociedade para o fato. Morreram sim e vão continuar morrendo, é até o final do ano, entre atropelados e vítimas de colisões serão próximo de cem só em Aracaju. Para o Estado todo, o número será multiplicado por pelo menos 6 vezes a exemplo dos 604 mortos apontados na estatística de 2013. E que diferença isso faz? Se considerarmos a fragilidade das ações do poder público no tocante a sensibilização e educação de pedestres e condutores, e mais, a indiferença e falta de comoção das pessoas com o numero absurdo de mortos, me convenço que esta situação não faz a menor diferença. Me solidarizo ás famílias que enterraram seus entes queridos. São elas que tem a exata dimensão da tristeza provocada pela perda de pessoas dos mais diferentes perfis, idosos, jovens, sim porque as mortes no trânsito são seletivas e as vítimas são na maioria, pessoas com mais dificuldade de mobilidade (idosos) e de jovens movidos pelo ímpeto de correr risco, especialmente como condutores. Imaginem a repercussão da queda de um avião com vinte mortos em Sergipe, passaríamos semanas discutindo a queda e toda a sociedade estaria comovida com o ocorrido. Já com as vítimas de atropelamentos, amanhã mesmo ninguém mais comentará a carnificina. Enquanto as ações de combate a violência no trânsito estiverem focadas em panfletagens eventuais, exposição de veículos batidos e blitz educativas, certamente não vamos a lugar nenhum. Só acredito em mudanças concretas se as famílias e as organizações que ajuntam pessoas forem incomodadas. As empresas precisam serem convocadas a incluir o tema nas Semanas Internas de Prevenção de Acidentes como forma de conscientizar seus colaboradores e evitar afastamentos e perdas. É sugestivo que os templos religiosos convoquem seus fiéis para discutir o tema pelo menos uma vez por ano. A violência não verifica credo e mata pessoas de todas as idades e convicções. Penso ainda que a mobilização de religiosos pode resultar de forma mais efetiva na conscientização das famílias que qualquer ação do poder público. Tenho clareza que o nosso problema não passa pela legislação, temos um Código de excelente qualidade. Falta-nos mesmo a capacidade de sermos defensivos e entendermos que atropelar, colidir, matar e morrer é consequência da nossa indiferença. Sydnei Ulisses é instrutor de trânsito e coordenador do Movimento Gentileza Aracaju – www.gentilezaaracaju.amawebs.com

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